INDÍGENA
O princípio do mundo - Todas as coisas estavam envoltas numa escuridão impenetrável;
uma neblina densa cobria a terra.
Saíram das trevas dois índios: um, Caruçacahy (Caru),
grande e corpulento; outro, Rairu seu filho.
Descuidadamente, Rairu tropeçou. Ficou furioso.
Tinha pisado numa casca de tartaruga. O pai tomou-a: "Leve-a nas costas!" Ordenou ao moço.
O índio obedeceu e foi andando. A casca de tartaruga foi, aos poucos,
aumentando de tamanho até que ele não pode mais suportá-la.
Quando pensava que seria esmagado, a casca subiu: transformou-se no céu.
Logo nasceu o sol. Teve uma filha, a lua, brilhante e muito branca a qual gerou as estrelas.
Rairu aprendia depressa e observava tudo ao seu redor.
Em pouco tempo, sabia mais do que o pai. Por isso, Caru não gostava dele
e vivia pensando em matá-lo. Certa vez, encontrando um tucumanzeiro, atirou uma flecha acertando
bem no alto da árvore. "Rairu, vai buscar a flecha!" O moço atendeu.
O tucumanzeiro guardou seus espinhos para não machucá-lo. Caru tremia de raiva,
mas não disse nada. Daí a uns dias cortou o tronco de outra árvore;
empurrou-o, deixando-o cair em cima do filho e foi-se embora.
Ao amanhecer do dia seguinte, o jovem estava bom. Nada lhe havia acontecido. O índio Caru não desistiu. Tentou mais uma porção de meios. Pôs fogo na mata, construiu armadilhas... Era inútil. Um dia, fez um tatu com folhas e gravetos. Untou-o com resina e mandou que o rapaz o agarrasse. O tatu escavou o solo e desapareceu, puxando Rairu que ficara preso pela cola. Quando já estavam bem no fundo, o moço libertou-se e retornou à superfície. Vendo, que o pai, irado, erguia o chicote, gritou: "Não! Encontrei gente na terra. São bons para
trabalhar." Do buraco do tatu, surgiram homens. Rairu espremeu folhas e raízes; preparou tintas de varias cores: verde, amarelo, azul, vermelho... Pôs-se a pintar aquela gente. Fez isso tão vagarosamente que alguns adormeceram. Caru separou-os: "Por terdes dormido, sereis animais: passarinhos, macacos, morcegos, borboletas..." Depois falou aos que permaneceram acordados: "Sereis homens! Vossos filhos serão guerreiros corajosos!" Assim que terminou de falar, sumiu pela terra. Nunca mais voltou. Chamaram a esse lugar Caru-cupi.
(Lendas Indígenas - Gráfica Ed. Aquarela, SP, 1962)
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